quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Puberdade


Lá se vão os pássaros outra vez

Deixando rastro de cores púrpuras empalidecidas pelo som de suas asas

Que suavemente tocam as partículas de poeira no ar

Dançam menininhas, pequeninas sombras roliças

Que espraiam aromas de velocidade

Mas teus olhos...por que teus olhos me dizem tristeza?

Voa pequenina, traga para mim a ventura de tua sorte

Porque perto do céu vês o intocável,

o magnífico assombro das ventosidades mais queridas.
(o quadro é de Edvard Munch cujo nome é "Puberdade")

sábado, 29 de novembro de 2008

Algumas notas sobre o ódio

“Amai-vos uns aos outros e sereis felizes. Tomai sobretudo a peito amar os que vos inspiram indiferença, ódio, ou desprezo. O Cristo, que deveis considerar modelo, deu-vos o exemplo desse devotamento. Missionário do amor, ele amou até dar sangue e a vida por amor. Penoso vos é o sacrifício de amardes os que vos ultrajam e perseguem; mas, precisamente, esse sacrifício é que vos torna superiores a eles. Se os odiásseis, como vos odeiam, não valeríeis mais do que eles. Amá-los é a hóstia imácula que ofereceis a Deus na ara dos vossos corações, hóstia de agradável aroma e cujo perfume lhe sobre até o seio. Se bem a lei de amor mande que cada um ame indistintamente a todos os seus irmãos, ela não couraça o coração contra os maus procederes; esta é, ao contrário, a prova mais angustiosa, e eu o sei bem, porquanto, durante minha última existência terrena, experimentei dessa tortura. Mas Deus lá está e pune nesta vida e na outra os que violam a lei de amor. Não esqueçais, meus queridos filho, que o amor aproxima de Deus a criatura e o ódio distancia dele.”
Esse texto cujo título é “O ódio”, de autoria do espírito Fénelon, escrito em Bordéus, 1861, quando da codificação da Doutrina Espírita por Alan Kardec, guarda sua atualidade no conteúdo de suas letras de amplas interpretações e vastidão de sentido. O que parece ser tão simples em dizer: ama e sê feliz, nos leva à profunda complexidade de não entender o sentido não gramatical do verbo amar. Tudo isso porque as coisas realmente são complicadas, “mas são ao mesmo tempo simples, e se complicam à medida em que se tem medo da simplicidade”, Clarice Lispector já afirmava.
Não é fácil encarar nossos espelhos com nossas imagens diariamente refletidas na conduta do outro que nos incomoda de algum modo. E demora para que concluamos que na verdade o grande erro está em quem se ofende, porque alimenta essa relação de ódio. Será demais dizer que o ódio é o oposto da lei de amor?
A união entre criadores e criatura no plano terreno configura mais importante conquista a ser desvelada. Pais e filhos guardam consigo o dever moral de cultivar amor recíproco, talvez imposto pelas leis divinas ou talvez seja simplesmente uma condição natural de quem gera e é gerado. O distúrbio dessas teias de sentimentos que se cruzam por vezes se dá diante da incompetência provisória que portamos em combater nossas máculas.
Não é próprio da natureza o desequilíbrio, e os tumultos causados pela ausência de um dos pais é apenas reflexo dessa desordem que, naturalmente, tenta se restabelecer. Assim como os ciclos da chuva se repetem, por exemplo, na busca de conservar o equilíbrio das formas de vida existentes no planeta, as relações interpessoais tendem para a busca de uma constante ordem, que há tempos a humanidade busca em forma da elaboração de teorias e mais teorias, mas que ainda não atingimos por ainda não ser, creio, compatível essa estabilidade preconizada com a nossa natureza humana, que é mutável, não podemos esquecer.
Colocamos barreiras entre as relações, nos esquivamos do diálogo silenciando nossas percepções muitas vezes equivocadas a respeitos das intenções da pessoa que estamos em conflito, esperando palavras de desculpas dos nossos algozes e de condolências daqueles que provavelmente nos ouvirão como vítimas do episódio crítico. Pois, é verdade, é um trabalho árduo o exercício de olhar-se não mais como mero alvo de infortúnios, não queremos nos responsabilizar por nossas dores, escolhemos sempre alguém ou algo para carregar esse fardo. E nos contentaríamos em ficar eternamente jogando-lhes pedras, acusando-lhes de nossos males, se só tivéssemos desequilíbrio nas relações com nossos desafetos. Mas, ao contrário, entramos em guerra com pessoas queridas, de quem sentimos saudades, de quem desejamos o bem, de quem gostaríamos que estivesse presente, mas que não esteve. Torna-se mais penoso ainda o trabalho de conquista e de reconquista dos laços fraternos e do exercício do perdão.
Fénelon ensina-nos que, como Cristo, devemos procurar amar aqueles que mais nos inspiram indiferença, ódio e desprezo, porque amar pessoas bem vindas com quem temos momentos e mais momentos felizes é sempre mais fácil. Embora seja mais custoso perdoa-lhes quando nos ofendem, justamente por causa da maior firmeza que há na ligação espiritual. E é isso o que ocorre nas relações entre pais e filhos.
Há forte ligação espiritual, embora desconhecida por nossa razão científica e ignorante dos saberes da eternidade. Então, deixamo-nos levar levianamente pelo ódio e impedimos que recomeços sejam perseguidos.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Inimigos

Aviso ao inimigo que o barco está afundando, que as estruturas desse navegante objeto estão num estado de quase ruína e que dele já saem traumatizados os tripulantes cansados do ócio da guerra declarada sem explosões nem dinamites. Dos barulhos que ouvi, lembro de murmúrios infantis em comunicação com a fome, parceira de todos os tempos naquele meio que transporta vis. Saem em silêncio arrebatadoramente insinuante, as carnes prontas para serem expostas na mesa do feirante do porto. Uma podridão qualquer ecoa. São os sinais de um fim impuro e catedrático, resultado ímprobo das mentes que de tanto pensarem morrem em marasmos obscuros. Morte: eis teus sinais de vida em pendores.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Cinco de novembro



O bom de manter um blog é alimentar essa vontade de escrever sobre tudo. Tudo parece um tema interessante a ser desenvolvido.

Hoje estava pensando nos livros pendentes que tenho para ler. No total são seis, todos começados e não terminados. Isso dá uma angústia do caramba, mas aprender a lidar com a desorganização pessoal é outro desafio a ser vencido além dos livros que comecei, mas não terminei de ler. É que alguns desses livros foram trocados por outros...

É o seguinte, este ano eu me propus a conhecer Clarice Lispector. Todo o interesse surgiu de longas conversas sobre a entrevista que ela concedeu a TV cultura pouco antes de falecer. E foi esse despertar que me levou a ler “Laços de família”, livro de contos, primeiro livro que li apesar de ter sido “A paixão segundo GH” a primeira obra que conheci e folheei. Esse livro na verdade eu não escolhi ler, eu o ganhei da minha mãe que já sabia do meu interesse pela obra de Clarice. E essa é uma dica: começar lendo seus contos é um bom modo de iniciar. A leitura clariciana é um pouco complexa, não por excesso de “intelectualização” de seu conteúdo (Clarice já foi chamada de bruxa, ela lia Kafka e Sartre, o que justifica um pouco dessa complexidade), mas porque não estamos acostumados a sentir ao invés de ler. E ler Clarice é mais sentir que ler. É se entregar. Mas ainda é muito cedo para tentar construir algumas conclusões, estou ainda lendo o quarto livro (Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres).

Claro que se alguém for começar pelos contos jamais poderá escolher “O ovo e a galinha” que a própria Clarice diz não entender, apesar de ter sido eleito como seu preferido. Eu mesma comecei a ler e desisti. Ainda não chegou o momento dele.

Essas poucas palavras sobre Clarice são só para fazer despertar um mínimo de curiosidade para quem deseja adentrar em uma leitura no mínimo muito interessante e também para justificar tantas referências a ela aqui no meu blog: identificação.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Desatinos na cidade de Belém


No início das eleições para prefeitura de Belém, o quadro de candidatos era o seguinte: Duciomar e todos os outros contra o Duciomar. De um modo geral, no primeiro turno muitos candidatos deixaram de apresentar as suas propostas de governo para criticar a atual administração. Muito justo. Pois, não é necessário muito esforço para constatar que a cidade de Belém está sendo mal administrada. Analisando duas obras realizadas pela prefeitura - Duciomar que facilmente se chega à conclusão de que faltou um pouco mais de apreço em executá-las. Vejamos.
Para aqueles que defendem o atual prefeito alegando que ele é o homem do asfalto, engana-se se pensa que todo o bairro do Guamá encontra-se asfaltado. A passagem Frei Daniel está na mesma situação que há três anos e alguns meses. Quem costuma sair da Universidade Federal do Pará pela Bernardo Sayão pode verificar também que as ruelas que as cortam são deprimentes. A obra da Duque de Caxias é toda mal elaborada, em uma pista há faixa de pedestres que estes atravessem sem sinal de trânsito, mas ai os carros demoram a parar, pois não existe política de educação no trânsito em Belém, nem divulgação desse tipo de mudança que representa muito para um possível avanço da cidade. Não bastasse isso, para atravessar a outra pista o pedestre deve fazer um trilha no canteiro para atingir a outra faixa de pedestre. E o que isso mudou na vida dos belenenses? Tem uma avenida mais bonita? Hum...não sei, de beleza questionável, pois muitas árvores foram arrancadas para a modernização da via, a Duque de Caxias se torna horrorosa quando lembramos do Caos da Almirante Barroso. Dá até raiva da Duque, porque ela com toda aquela sinuosidade eleitoreira contribui pouco para fazer escoar o trânsito de Belém.
Muito bem, estamos falando de ruas, pois estamos falando do prefeito do asfalto e da pavimentação, afinal foi por isso que foi reeleito e esse era o seu trunfo nos debates. E ainda falando de Almirante Barroso...vamos caminhar um pouco mais ir para o início da BR 316, passando pela Igreja Universal próximo ao shopping Castanheira. Naquele espaço não há calçada, foram tomadas pelos ambulantes deixados de lado pela prefeitura, só há um lamaçal de pessoas se batendo, poças dágua, uma imundície. A outra via não diferente. E estou falando de uma área nobre da cidade, é a entrada de Belém. Por falar nisso, Belém está uma cidade mais bonita?
É só uma questão de olhar para a cidade e pensar um pouco não dói.
Voltando para o Guamá... passeando por lá no dia 26/10/2008, no bairro do Dudu, pude ver que realmente lá todo mundo é por ele, bandeiras amarelas por tudo o que é canto. Agora, pensem numa dificuldade enorme em passar naquelas ruelas estreitas e pasmem: não asfaltadas!
É...parece que esse homem não é o homem do asfalto como andavam falando por aí.
Sem falar em inúmeros processos que se encontram nas costas de Duciomar Costa. Para a leitura não ficar cansativa vou citar três:

1 - Ação Civil Pública nº 2008.1.100302-5 – trata-se de uma ação com pedido de condenação por atos de improbidade administrativa; a ação foi proposta pelo Ministério Público do Trabalho e pelo Ministério Público do Estado onde Duciomar é acusado de omissão no tratamento das crianças e dos adolescentes do Aurá por ter deixado de assinar Termo de Ajuste de Conduta (TAC) para que providências fossem tomadas, o que não ocorreu. É acusado, também, por ter enganado os eleitores ao afirmar antes das eleições que assinaria o TAC, o que, como já disse, não foi feito. Resultado: o lixão do Aurá continua sendo lugar visitado por crianças e adolescentes em busca de sobrevivência.

2 - Processo n. 2008.1.008616-3 – trata-se de Ação por ato de improbidade administrativa pelo uso indevido de manchetes e fotos no Diário Oficial em tempos de campanha eleitoral com evidente objetivo em fazer uso da máquina pública para se beneficiar no processo eleitoral.

3 - E a mais divulgada denúncia recebida pelo Tribunal Regional da Primeira Região (TRF 1ª - processo n. 2006.01.00. 0368799/PA) de ter recebido recursos federais do Sistema Único de Saúde – SUS, para comprar veículos destinados para a guarda municipal. Esse dinheiro transferido pela União seria usado em ações e serviços de vigilância epidemiológica e sanitária. Sem comentários.

Depois desse breve histórico do nosso prefeito (e se quiserem podem contribuir com mais informações, pois não quis que esse texto ficasse tão longo como já até ficou...), dá para ter uma noção do que virá nos próximos quatro anos.
Duciomar ficou na frente de Priante no primeiro turno por uma diferença razoável, nada exorbitante, 33% contra 19% do outro (salvo engano). O que parece uma incoerência enorme é ele ter vencido as eleições no segundo turno, pois a porcentagem de todos os outros candidatos ultrapassava a de Duciomar, e todos esses outros candidatos estavam com uma campanha contra a administração atual, o que faz presumir que seus eleitores também.
Mas, o lógico não ocorreu.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Fadiga

Hoje foi um dia para viver as impressões de um cansaço costumeiro.

Fadiga de todos os brasileiros diante de mais um final de dia comum, de trabalho, de responsabilidades, de pequenos e grandes aborrecimentos.

Cansaço de ter que seguir a mesma rotina de sempre e de não reproduzir a pseudo-lógica de nossos devaneios.

Nos confins dessa seqüência quase maquinal, chega-se à hora da verdade: o dia se foi.

E na hora da auto-escuta, derrama-se o corpo-a-corpo nos lençóis exaustos de tanta lamentação.

E são esses os nossos dias: fadiga cidadã.

Nossos tímpanos inflamados já estão inaudíveis, tapados para ouvir vãs promessas do uso que será feito do que nos pertence, em clamação misericordiosa, odienta e silenciosa por paz.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Ela é dançarina - Chico Buarque

o nosso amor é tão bom
o horário é que nunca combina
eu sou funcionário, ela é dançarina
quando pego o ponto, ela termina
ou: quando abro o guichê é quando ela abaixa a cortina
eu sou funcionário, ela é dançarina
abro o meu armário, salta serpentina
nas questões de casal, não se fala mal da rotina
eu sou funcionário, ela é dançarina
quando caio morto, ela empina
ou: quando eu tchum no colchão
é quando ela tchan no cenário
ela é dançarina, eu sou funcionário
o seu planetário, minha lamparina
no ano dois mil e um, se juntar algum
eu peço uma licença, e a dançarina,
enfim já me jurou que faz o show
pra mim
ela é dançarina, eu sou funcionário
quando eu não salário, ela, sim, propina
no ano dois mil e um, se juntar algum
eu peço a Deus do céu uma licença
e a dançarina, enfim já me jurou
que faz o show pra mim
eu sou funcionário, ela é dançarina
quando esquento a sopa, ela cantina
ou quando eu Lexotan,
é quando ela Reativinaeu
sou funcionário, ela é dançarina
viro o calendário, voa purpurina
no ano dois mil e um,
se juntar algum eu peço uma licença
e a dançarina, enfim já me jurou
que faz o show pra mim
ela é dançarina, eu sou funcionário

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

luta sangrenta pela paz - Clarice Lispector


"Não somos nós que somos cruéis, a vida é que é, e nós somos os elementos vitais dessa vida, e não se chama crueldade viver a vida. (...) Sei que as coisas são complicadas. Mas são ao mesmo tempo simples. Elas se complicam à medida em que se tem medo da simplicidade - porque essa simplicidade seja o fato em si, a verdade. Encare um pouco a verdade, que é muito bonita, e sinta-se livre, querida."
MINHAS QUERIDAS - Clarice Lispector

Sétimo dia




Volta naqueles dias em que o pintor
Mostrou-lhe a vida e disse que ele era livre
Cada pedaço de chão que passou
Diz que nunca soube nem saberá colher flores
Não pode, não consegue conter sua cólera
A dor sobressalta de seus pulsos
Como jogar fora ?
Brinca com as profecias que cuida de criar
Seus frutos estão com as sementes podres
E já não servem mais...
E a ele lembrará de como éramos inocentes
em acreditar que o amor pode salvar
E a ele pedirá para falar e maldizer nossas leis
Para confortar
Mas isso não vai acontecer
Só quer se privar de vê-lo ao longe
Mas ele nunca esteve aqui

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Resistente


Vejo os destroços daquela guerra civil
Gente da gente caindo num abismo inobservável
E num futuro distante e não tão distante assim
Vejo as ruínas de estrelas sem limpidez
E há templos carentes de fé
Escute bem o que eles dizem
E não faça nada além do certo
se o certo é somente não saber o que fazer
Teu emblema no peito não me faz prestar continência
Porque o futuro é simplesmente amor
Quando, então, seremos ricos...

sábado, 9 de agosto de 2008

Ensaio sobre a hipocrisia


Belas palavras as tuas. Teu conceito é de pura palavra, és a própria metalinguagem na sua feição mais metafísica. Ora, o que são esses vocábulos que insistem em ecoar num sopro disforme, descontínuo, desorientado e inerte?
Sempre falas do ódio que julgas outros sentirem, e, ao mesmo tempo, do amor que dizes sentir. Porque só dizes, porque és a personificação de um elóquio. Ossos do ofício?
Por que pensas tanto em ódio e amor ao mesmo tempo? O que te faz pensar que esses aparentes opostos têm faces tão diferentes? Por que não te fazes um ser existente? A responsabilidade é uma premissa existencial, e somente os que sentem a paixão é que sabem sentir e se expressar, não mais o amor tem tanta relevância. Viver nossa condição humana é viver a paixão. É saber que o todo só adquire significado se vivido em partes. Nossas partes que simplesmente são. Eu odeio. Eu amo. Eu vivo. Eu existo. Porque sou. E a vida é.
Minha busca é pela verdade, mas receio que ela não exista, ou não seja alcançável. Ou talvez nem seja a própria verdade, talvez só exista mentira, talvez nada exista. O nada.
O nada.
Se perguntassem hoje a mim quem és diria: um dicionário, um compêndio de letras ininteligíveis, um constructo de fonemas aberrantes, é a evasão do buraco negro.
Não amas. Quem ama vive.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

gafanhotos

A malícia dos tempos tem o peso de nossos ares

Nossos dons pervertidos...

se esvaem num vale de dor

Findam em piedade de si em si mesmo

É o imperfeito direito custoso dos dias

Temperança demais

A trepidez ecoa nas mãos: gafanhotos

O mal também tem suas leis

Pensamento 2

Faz parte de hoje
Essa realidade de coisas vãs
A insensibilidade de metas cruéis
Que se desfazem diante dos fatos
É uma história sem narrador
Nem personagem
Só há um espectador: eu, de mim mesmo
Da minha brutalidade mórbida
Do meu eu finito, limitado pela minha imaginação
Que apesar de percorrer caminhos diversos
Me leva a uma só saída