quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Fadiga

Hoje foi um dia para viver as impressões de um cansaço costumeiro.

Fadiga de todos os brasileiros diante de mais um final de dia comum, de trabalho, de responsabilidades, de pequenos e grandes aborrecimentos.

Cansaço de ter que seguir a mesma rotina de sempre e de não reproduzir a pseudo-lógica de nossos devaneios.

Nos confins dessa seqüência quase maquinal, chega-se à hora da verdade: o dia se foi.

E na hora da auto-escuta, derrama-se o corpo-a-corpo nos lençóis exaustos de tanta lamentação.

E são esses os nossos dias: fadiga cidadã.

Nossos tímpanos inflamados já estão inaudíveis, tapados para ouvir vãs promessas do uso que será feito do que nos pertence, em clamação misericordiosa, odienta e silenciosa por paz.

6 comentários:

Anônimo disse...

Fadiga cidadã, fadiga vã... O cansaço e a sensação de que ele não valeu nada, não rendeu nada. Nada se aproveitou, nada se realizou; terminamos como começamos, ou pior, com menos forças nos braços, menos brilhos nos olhos, a alma pesada e um coração em desencanto.
Até quando?

Anônimo disse...

O corpo-a-corpo nos lençóis e a exaustão do dia lamentado ou lamentável contrapõem-se ao cansaço de amor. Sim, porque amar tem o condão de superar tristezas e melancolias. De esmagar o cançaço que não seja de amor. Na verdade, como nos veros de Moacyr Félix, "aquele que entra no quarto e apaga a luz não sabe o mistério da mulher nua..." O inverso também é verdadeiro quanto à mulher. Mas, que mistérios são esses que não atraem um homem fisicamente cansado ou mesmo materialmetne frustrado? Pensar e amar não enrijece os músculos nem os massageia; porém, a força do amor, que é mente, que é energia, que é magnetismo, supera as dores, os dissabores, as frustrações, o cansaço... Embaixo de um lençol realmente pouco se vê, como se a luz fosse apagada. Veja-se sobre ele - o lençol - e terá a concepção real, não dia exaustivo e despiciendo, mas, certamente, daquilo que a faz compreender a insignificância do sofrimento diante do amor, na consciência justa de que, amando, terá reconhecido até a correção da dor...

Don Avelino

Urutau disse...

"Fadiga" é uma pequena descrição de um dia-a-dia como todos os outros, de cansaço da mesmice, da falta de ânimo em viver num mundo que para tantos parece não mudar, principalmente para os que mais sofrem, que somos todos nós.

Anônimo disse...

Como não posso aconselhar algo contra a fadiga, pois que, cultuador do ócio, pouco a conheço, enalteci o santo remédio do amor, que a tudo vence, a tudo seduz, a tudo satisfaz... Amar é fundamental! Amando o que fazemos, talvez sejamos menos quedos diante do mero desforço físico. Quem sabe? A vida são estágios e estádios numa progressão não meramente aritmética. Os laivos de nossas almas são saneáveis pela elevação moral, para a qual sobremodo concorre o amor, a caridade, o perdão... Aí, o dia feliz talvez seja o que mais se trabalhe e menos se ganhe, se ganhar significa a mera e despicienda sofreguidão pela pecúnia.

Don Avelino

Urutau disse...

Visibilidade. É o que todo ser humano quer. Reconhecer-se no outro, ser valorizado, amado. Tudo isso também conduz à fadiga.

Anônimo disse...

Reconhecer-se no outro, como? Ora, meus anseios não devem depender da condescendência de outrem, tampouco devo ter o domínio supremo de impor-me como "eu" naquele que me contempla. O equilíbrio humano não está justamente nos opostos? Ser reconhecido não é reconhcer-se no outro; é sempre ser percebido, de tal sorte que, até à indiferença,saibas que te notaram e, por isso mesmo,olvidaram-te. Teus valores têm a ver, também, com a humildade e a resignação que assimilas em face dos desângulos sociais. Como se dirigisses teus atos àquele mundo que te contempla muito mais do que imaginas...