sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013


Mal costume?

Começo esse texto afirmando que classifico os maus tratos a criança como a prática mais abominável de todos os tempos. Dito de outro modo, trata-se de um grave mal costume. Os adultos foram mal acostumados quando aprenderam a tratar violentamente os infantes.

Davi contabiliza quase dois meses de vida e ao longo desses quase sessenta dias de vida já ouvi várias vezes dos adultos que deixar a criança muito tempo no colo o deixaria mal acostumado. Aí então eu reafirmo: mal costume é bater em criança. Outra vez disseram que a criança fica preguiçosa. Preguiça é deixar de disciplinar os filhos optando pela violência como o “cala boca e me deixa em paz” mais “eficaz” em curto prazo.

Imersa nas circunstâncias específicas e peculiares da maternidade e mais especificamente o pós parto verifico que de um modo geral as pessoas não concordam com a prática de acomodar o bebê no colo apresentando as mais diversas justificativas, como as acima mencionadas. Posso acrescentar, ainda, que costumeiramente supõe-se que no futuro o bebê ficará viciado no contato físico. Então eu pergunto: que futuro é esse?

Curioso notar que a separação entre bebê e mãe é prática antiga na sociedade ocidental, porém esses adultos de agora (outrora bebês apartados de suas mães) são pessoas extremamente carentes de afeto, de abraços, de toque. Carência essa que se expressa nas mais diversas formas e comportamentos doentis ou vícios. Significa dizer que o intento que se pretende com a referida separação não é alcançado. E mais, são produzidos adultos dependentes emocionalmente, que necessitam sempre reafirmar-se contundentemente para não permitir vazar sua fragilidade.

Sabemos que bebês são filhotes de pessoa humana e que, portanto, possuem inteligência. Bebês que choram demais são injustamente acusados de estarem fazendo manha, birra. É que nessas ocasiões considera-se veementemente que se tratam de seres pensantes, que compreendem a situações nas quais estão envolvidos. De outro modo, o adulto ignora o bebê submetendo-o a diversas atividades e circunstâncias sem estabelecer fios de comunicação eficiente deixando de falar, por exemplo, o momento que vai levantar as perninhas na troca de fralda, não informando que o bebê vai tomar alguma vacina ou ir a algum lugar mais agitado,  e também deixando de falar sobre os sentimentos do adulto ou sobre quando teve um dia ruim ou sobre o que o aborrece.

É mais que um comportamento contraditório. É o envio de uma mensagem dúbia ao bebê: às vezes o trato como pessoa, quando é conveniente, às vezes não. Não pretendo ser sectária em minha abordagem e elucubrações, mas é que as crianças, e mais especificamente, os bebês, são pessoas!

Por tudo isso penso que a decisão de ter um filho é algo muito grave e de uma responsabilidade gigantesca. Vejo como é necessário o exercício da empatia. Pôr-se no lugar do bebê, e fazer a ele o que gostaríamos que se nos fizessem.

A criança no colo irrita o adulto que se sentiu pouco amado na infância, porque intuitivamente acha injusto não ter recebido esse tratamento ou incide na mesma conduta de Caim, da história bíblica: a tal da inveja. Uma inveja que julgo ser tão automática que passa despercebida pelo adulto ressentido com seu passado e acostumado com a cultura do desamor. Por esta razão, cuidar de um bebê é reviver o bebê que um dia fomos. É entrar em contato com essa memória infantil que se camufla em nossas conexões cerebrais manifestando-se em nossa conduta involuntariamente.

Olhar um bebê é encontrar-se. É permitir que o vento das lembranças abram as janelas da nossa casa mental.

 

 

 

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