Mal costume?
Começo esse texto afirmando que
classifico os maus tratos a criança como a prática mais abominável de todos os
tempos. Dito de outro modo, trata-se de um grave mal costume. Os adultos foram
mal acostumados quando aprenderam a tratar violentamente os infantes.
Davi contabiliza quase dois meses
de vida e ao longo desses quase sessenta dias de vida já ouvi várias vezes dos
adultos que deixar a criança muito tempo no colo o deixaria mal acostumado. Aí
então eu reafirmo: mal costume é bater em criança. Outra vez disseram que a
criança fica preguiçosa. Preguiça é deixar de disciplinar os filhos optando
pela violência como o “cala boca e me deixa em paz” mais “eficaz” em curto
prazo.
Imersa nas circunstâncias
específicas e peculiares da maternidade e mais especificamente o pós parto
verifico que de um modo geral as pessoas não concordam com a prática de
acomodar o bebê no colo apresentando as mais diversas justificativas, como as
acima mencionadas. Posso acrescentar, ainda, que costumeiramente supõe-se que
no futuro o bebê ficará viciado no contato físico. Então eu pergunto: que
futuro é esse?
Curioso notar que a separação
entre bebê e mãe é prática antiga na sociedade ocidental, porém esses adultos
de agora (outrora bebês apartados de suas mães) são pessoas extremamente
carentes de afeto, de abraços, de toque. Carência essa que se expressa nas mais
diversas formas e comportamentos doentis ou vícios. Significa dizer que o
intento que se pretende com a referida separação não é alcançado. E mais, são
produzidos adultos dependentes emocionalmente, que necessitam sempre
reafirmar-se contundentemente para não permitir vazar sua fragilidade.
Sabemos que bebês são filhotes de
pessoa humana e que, portanto, possuem inteligência. Bebês que choram demais
são injustamente acusados de estarem fazendo manha, birra. É que nessas
ocasiões considera-se veementemente que se tratam de seres pensantes, que
compreendem a situações nas quais estão envolvidos. De outro modo, o adulto
ignora o bebê submetendo-o a diversas atividades e circunstâncias sem
estabelecer fios de comunicação eficiente deixando de falar, por exemplo, o
momento que vai levantar as perninhas na troca de fralda, não informando que o
bebê vai tomar alguma vacina ou ir a algum lugar mais agitado, e também deixando de falar sobre os
sentimentos do adulto ou sobre quando teve um dia ruim ou sobre o que o
aborrece.
É mais que um comportamento
contraditório. É o envio de uma mensagem dúbia ao bebê: às vezes o trato como
pessoa, quando é conveniente, às vezes não. Não pretendo ser sectária em minha
abordagem e elucubrações, mas é que as crianças, e mais especificamente, os
bebês, são pessoas!
Por tudo isso penso que a decisão
de ter um filho é algo muito grave e de uma responsabilidade gigantesca. Vejo
como é necessário o exercício da empatia. Pôr-se no lugar do bebê, e fazer a
ele o que gostaríamos que se nos fizessem.
A criança no colo irrita o adulto
que se sentiu pouco amado na infância, porque intuitivamente acha injusto não
ter recebido esse tratamento ou incide na mesma conduta de Caim, da história
bíblica: a tal da inveja. Uma inveja que julgo ser tão automática que passa
despercebida pelo adulto ressentido com seu passado e acostumado com a cultura
do desamor. Por esta razão, cuidar de um bebê é reviver o bebê que um dia
fomos. É entrar em contato com essa memória infantil que se camufla em nossas
conexões cerebrais manifestando-se em nossa conduta involuntariamente.
Olhar um bebê é encontrar-se. É
permitir que o vento das lembranças abram as janelas da nossa casa mental.
Nenhum comentário:
Postar um comentário