“Amai-vos uns aos outros e sereis felizes. Tomai sobretudo a peito amar os que vos inspiram indiferença, ódio, ou desprezo. O Cristo, que deveis considerar modelo, deu-vos o exemplo desse devotamento. Missionário do amor, ele amou até dar sangue e a vida por amor. Penoso vos é o sacrifício de amardes os que vos ultrajam e perseguem; mas, precisamente, esse sacrifício é que vos torna superiores a eles. Se os odiásseis, como vos odeiam, não valeríeis mais do que eles. Amá-los é a hóstia imácula que ofereceis a Deus na ara dos vossos corações, hóstia de agradável aroma e cujo perfume lhe sobre até o seio. Se bem a lei de amor mande que cada um ame indistintamente a todos os seus irmãos, ela não couraça o coração contra os maus procederes; esta é, ao contrário, a prova mais angustiosa, e eu o sei bem, porquanto, durante minha última existência terrena, experimentei dessa tortura. Mas Deus lá está e pune nesta vida e na outra os que violam a lei de amor. Não esqueçais, meus queridos filho, que o amor aproxima de Deus a criatura e o ódio distancia dele.”
Esse texto cujo título é “O ódio”, de autoria do espírito Fénelon, escrito em Bordéus, 1861, quando da codificação da Doutrina Espírita por Alan Kardec, guarda sua atualidade no conteúdo de suas letras de amplas interpretações e vastidão de sentido. O que parece ser tão simples em dizer: ama e sê feliz, nos leva à profunda complexidade de não entender o sentido não gramatical do verbo amar. Tudo isso porque as coisas realmente são complicadas, “mas são ao mesmo tempo simples, e se complicam à medida em que se tem medo da simplicidade”, Clarice Lispector já afirmava.
Não é fácil encarar nossos espelhos com nossas imagens diariamente refletidas na conduta do outro que nos incomoda de algum modo. E demora para que concluamos que na verdade o grande erro está em quem se ofende, porque alimenta essa relação de ódio. Será demais dizer que o ódio é o oposto da lei de amor?
A união entre criadores e criatura no plano terreno configura mais importante conquista a ser desvelada. Pais e filhos guardam consigo o dever moral de cultivar amor recíproco, talvez imposto pelas leis divinas ou talvez seja simplesmente uma condição natural de quem gera e é gerado. O distúrbio dessas teias de sentimentos que se cruzam por vezes se dá diante da incompetência provisória que portamos em combater nossas máculas.
Não é próprio da natureza o desequilíbrio, e os tumultos causados pela ausência de um dos pais é apenas reflexo dessa desordem que, naturalmente, tenta se restabelecer. Assim como os ciclos da chuva se repetem, por exemplo, na busca de conservar o equilíbrio das formas de vida existentes no planeta, as relações interpessoais tendem para a busca de uma constante ordem, que há tempos a humanidade busca em forma da elaboração de teorias e mais teorias, mas que ainda não atingimos por ainda não ser, creio, compatível essa estabilidade preconizada com a nossa natureza humana, que é mutável, não podemos esquecer.
Colocamos barreiras entre as relações, nos esquivamos do diálogo silenciando nossas percepções muitas vezes equivocadas a respeitos das intenções da pessoa que estamos em conflito, esperando palavras de desculpas dos nossos algozes e de condolências daqueles que provavelmente nos ouvirão como vítimas do episódio crítico. Pois, é verdade, é um trabalho árduo o exercício de olhar-se não mais como mero alvo de infortúnios, não queremos nos responsabilizar por nossas dores, escolhemos sempre alguém ou algo para carregar esse fardo. E nos contentaríamos em ficar eternamente jogando-lhes pedras, acusando-lhes de nossos males, se só tivéssemos desequilíbrio nas relações com nossos desafetos. Mas, ao contrário, entramos em guerra com pessoas queridas, de quem sentimos saudades, de quem desejamos o bem, de quem gostaríamos que estivesse presente, mas que não esteve. Torna-se mais penoso ainda o trabalho de conquista e de reconquista dos laços fraternos e do exercício do perdão.
Fénelon ensina-nos que, como Cristo, devemos procurar amar aqueles que mais nos inspiram indiferença, ódio e desprezo, porque amar pessoas bem vindas com quem temos momentos e mais momentos felizes é sempre mais fácil. Embora seja mais custoso perdoa-lhes quando nos ofendem, justamente por causa da maior firmeza que há na ligação espiritual. E é isso o que ocorre nas relações entre pais e filhos.
Há forte ligação espiritual, embora desconhecida por nossa razão científica e ignorante dos saberes da eternidade. Então, deixamo-nos levar levianamente pelo ódio e impedimos que recomeços sejam perseguidos.
Esse texto cujo título é “O ódio”, de autoria do espírito Fénelon, escrito em Bordéus, 1861, quando da codificação da Doutrina Espírita por Alan Kardec, guarda sua atualidade no conteúdo de suas letras de amplas interpretações e vastidão de sentido. O que parece ser tão simples em dizer: ama e sê feliz, nos leva à profunda complexidade de não entender o sentido não gramatical do verbo amar. Tudo isso porque as coisas realmente são complicadas, “mas são ao mesmo tempo simples, e se complicam à medida em que se tem medo da simplicidade”, Clarice Lispector já afirmava.
Não é fácil encarar nossos espelhos com nossas imagens diariamente refletidas na conduta do outro que nos incomoda de algum modo. E demora para que concluamos que na verdade o grande erro está em quem se ofende, porque alimenta essa relação de ódio. Será demais dizer que o ódio é o oposto da lei de amor?
A união entre criadores e criatura no plano terreno configura mais importante conquista a ser desvelada. Pais e filhos guardam consigo o dever moral de cultivar amor recíproco, talvez imposto pelas leis divinas ou talvez seja simplesmente uma condição natural de quem gera e é gerado. O distúrbio dessas teias de sentimentos que se cruzam por vezes se dá diante da incompetência provisória que portamos em combater nossas máculas.
Não é próprio da natureza o desequilíbrio, e os tumultos causados pela ausência de um dos pais é apenas reflexo dessa desordem que, naturalmente, tenta se restabelecer. Assim como os ciclos da chuva se repetem, por exemplo, na busca de conservar o equilíbrio das formas de vida existentes no planeta, as relações interpessoais tendem para a busca de uma constante ordem, que há tempos a humanidade busca em forma da elaboração de teorias e mais teorias, mas que ainda não atingimos por ainda não ser, creio, compatível essa estabilidade preconizada com a nossa natureza humana, que é mutável, não podemos esquecer.
Colocamos barreiras entre as relações, nos esquivamos do diálogo silenciando nossas percepções muitas vezes equivocadas a respeitos das intenções da pessoa que estamos em conflito, esperando palavras de desculpas dos nossos algozes e de condolências daqueles que provavelmente nos ouvirão como vítimas do episódio crítico. Pois, é verdade, é um trabalho árduo o exercício de olhar-se não mais como mero alvo de infortúnios, não queremos nos responsabilizar por nossas dores, escolhemos sempre alguém ou algo para carregar esse fardo. E nos contentaríamos em ficar eternamente jogando-lhes pedras, acusando-lhes de nossos males, se só tivéssemos desequilíbrio nas relações com nossos desafetos. Mas, ao contrário, entramos em guerra com pessoas queridas, de quem sentimos saudades, de quem desejamos o bem, de quem gostaríamos que estivesse presente, mas que não esteve. Torna-se mais penoso ainda o trabalho de conquista e de reconquista dos laços fraternos e do exercício do perdão.
Fénelon ensina-nos que, como Cristo, devemos procurar amar aqueles que mais nos inspiram indiferença, ódio e desprezo, porque amar pessoas bem vindas com quem temos momentos e mais momentos felizes é sempre mais fácil. Embora seja mais custoso perdoa-lhes quando nos ofendem, justamente por causa da maior firmeza que há na ligação espiritual. E é isso o que ocorre nas relações entre pais e filhos.
Há forte ligação espiritual, embora desconhecida por nossa razão científica e ignorante dos saberes da eternidade. Então, deixamo-nos levar levianamente pelo ódio e impedimos que recomeços sejam perseguidos.