sábado, 9 de agosto de 2008

Ensaio sobre a hipocrisia


Belas palavras as tuas. Teu conceito é de pura palavra, és a própria metalinguagem na sua feição mais metafísica. Ora, o que são esses vocábulos que insistem em ecoar num sopro disforme, descontínuo, desorientado e inerte?
Sempre falas do ódio que julgas outros sentirem, e, ao mesmo tempo, do amor que dizes sentir. Porque só dizes, porque és a personificação de um elóquio. Ossos do ofício?
Por que pensas tanto em ódio e amor ao mesmo tempo? O que te faz pensar que esses aparentes opostos têm faces tão diferentes? Por que não te fazes um ser existente? A responsabilidade é uma premissa existencial, e somente os que sentem a paixão é que sabem sentir e se expressar, não mais o amor tem tanta relevância. Viver nossa condição humana é viver a paixão. É saber que o todo só adquire significado se vivido em partes. Nossas partes que simplesmente são. Eu odeio. Eu amo. Eu vivo. Eu existo. Porque sou. E a vida é.
Minha busca é pela verdade, mas receio que ela não exista, ou não seja alcançável. Ou talvez nem seja a própria verdade, talvez só exista mentira, talvez nada exista. O nada.
O nada.
Se perguntassem hoje a mim quem és diria: um dicionário, um compêndio de letras ininteligíveis, um constructo de fonemas aberrantes, é a evasão do buraco negro.
Não amas. Quem ama vive.

3 comentários:

Anônimo disse...

Oi Isabela!!!
Somos tese e antítese. Não tem jeito.

Convido-a a passar em nossa casa: http://www.inominable.blogspot.com/

Beijão!

Urutau disse...

Esse parodoxo existencial me inquieta...é um espelho de nós que deve ser anunciado.

Anônimo disse...

Minha Querida Bebela: Meus conceitos são de um pária obscurecido pelo silêncio sepulcral. Os dicionários, porém, são mecânicos, de uma mera filologia, sem os mistérios contextuais do escrínio... Mas, metalinguagem redundantemente metafísica faz transparecer pleonasmo de bêbedo. A tua própria linguagem rebusca, na espelhagem do poeta Luiz de Gôngora (gongorismo), sòfrega por dizer o que todos sabem: o amor existe, é complexo, mas fácil de sentir...Porém, tens brutal razão, como, aliás, dizia Fernando Pessoa: "O poeta é um fingidor/finge tão completamente/que chega a fingir que é dor/a dor que deveras sente...". Vide o poema abaixo, fútil como seu tema, em que de alguma forma eu traduzi aquilo que chamas de irresponsabilidade. Ademais, no amor todos são irreponsáveis, principalmente quando, só por amor, se pode odiar...

Criação, criador e criatura.

E se eu tenho o poder da criação,
Essa alma livre que vai subindo
Àqueles céus de todo encanto?

E se me vêm os versos
compelidos pela exatidão,
Verdade ausente que se faz
A verdade mais contida?

E se me vem a musa encouraçada
Desdenhar da sorte de conter-me
Lúcido nesse espaço de ilusão?

Ora, sou um criador de fantasias
E me encontro entre meus versos,
Que me criam anjos e demônios:
Os anjos, pelo amor que tenho;
Os demônios, por amar-se tanto.

E quando me faltar a criação
E sucumbirem-se os versos,
Levem-me à morte ou à solidão,
Para que, enfim, eu seja
Uma mera e estúpida criatura...

Beijos,
Don Avelino
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