segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

LIBERDADE


A entrevista do Roberto Justus ontem no programa da Marília Gabriela suscitou algumas reflexões. Relatou o bem sucedido empresário e apresentador sobre conservadorismos da sociedade, como por exemplo, em querer eternizar relações ou manter mentirinhas, que para Cazuza seriam sinceras, e também sobre alguma inflexibilidade nas suas relações em razão da idade.


Já vi alguns comentários a respeito das possíveis polêmicas falas de Justus, afirmando ser “muito fácil manter um relacionamento quando somente uma pessoa tem que ceder”, pois o apresentador disse que sua esposa amoldou-se a muitos de seus hábitos e modo de vida.


Em tantos minutos de entrevista, certamente não foi aquela fala de Justus a mais interessante e admirável de todas, mas me pergunto por que há certo prazer em exaltar o lado ruim das coisas? Caramba, o homem é uma das pessoas mais bem sucedidas no Brasil, e não é só uma questão financeira, tem tantos ricos por aí caindo de tanta depressão e de vícios. Não é o caso dele, porém, que é uma pessoa transparentemente bem resolvida. É de tirar o chapéu: faz o que gosta, faz bem o que faz, ganha bem por isso, é amante da verdade, e ainda consegue estimular os outros a desenvolver o próprio potencial.


Há um tempo venho pensando numa forma empreendedorista de encarar meus projetos pessoais. Como se minha vida fosse uma empresa. Não para atender às exigências do capital, mas para me enxergar como uma pessoa que precisa se superar todos os dias. Não por causa da concorrência, e sim para usufruir de uma condição de liberdade cada vez maior. Nada mais estimulante do que ter como foco superar dificuldades e obstáculos, e ainda mais quando essas intempéries são de índole moral, emocional e intelectual.



Depois de ver a entrevista, fui dormir, mas com vontade de fazer um milhão de coisas, super estimulada com a fala de alguém que com sua experiência consegue alcançar marcas de nossa subjetividade, mas só daqueles que realmente querem mudar. E fiz muitas coisas, só que em sonho, onde a liberdade além de real é romântica.



Da juventude, eu só quero guardar os sonhos e o desejo de transformação. Da vida adulta, eu quero os conselhos dos mais velhos. Na velhice, talvez queira descansar os neurônios e contar minhas histórias. Mas, hoje, especialmente, hoje, quero dizer que sou livre!!!!!!!!!!!!!!!!



Aos que reclamam além da conta, aos que só enxergam o lado negativo, aos que vivem de mau humor, aos que se comprazem em aprisionar os outros ou não conseguem viver de forma diferente, fazer uma atividade física pode ser um bom começo para essa mudança. Liberte-se.

domingo, 7 de novembro de 2010

COTIDIANO



Sempre apreciei a solidão. Contemplar o silêncio. Ter que dialogar comigo apenas. Ficar sem fazer absolutamente nada, a não ser percebe-me individual. Ouço uns passarinhos, faceiros, rodeando a casa, uma ambulância ao longe, uns ruídos da televisão, o sopro do vento.


Mas, o que ouço, e que sutilmente suaviza o cansaço rotineiro, são vozes que emanam de mim, como luzes renascentes. São pensamentos que pululam como brotos germinando na primavera. Nos últimos dias, especialmente, tenho apreciado ficar terrivelmente sozinha.


Outro dia tive a impressão de que as pessoas, amontoadas, se perdem em grupos, convertem-se num todo, pois não se contentam em ser apenas uma pequena parte ou simplesmente não conseguem. Aí, o espaço para a diferença encurta, e todos acabam se homogeneizando involuntariamente para completar a harmonia do conjunto, uns cientes outros nem tanto. De alguma forma deve parecer bom perder-se no todo, pois é como um alucinógeno: perpetua-se num estado de profundo torpor.


Então, no emaranhado social, pouco a pouco elaboramos e reelaboramos histórias que inspiram uns a transformar a realidade em cinema romântico-realista. Estranho isso! Enquanto uns gostariam de viver a vida de glamour hollywoodiano dos atores e atrizes, estes se comprazem em encenar a vida comum. No final das contas, ninguém foge à regra de querer a qualquer custo escapar da própria condição humana de existir social e individualmente.

Copiam-se artisticamente os dias que se sucedem harmonicamente, numa previsibilidade irritante. Encontram-se fatos e atos que se entrechocam continuamente, originando um enredo. Mas, o que faz uma história interessante não são os fatos objetivamente observados, é a confusão entre as subjetividades controversas. E então assim o tempo alia-se a nós ora como cúmplice ora como testemunha ocular de nosso cotidiano. E passa. E quanto menos atento se está para o tempo, mais ousado em sua velocidade ele é. A verdade é que tudo finda, por mais constante que seja a periodicidade da existência.

Tenho andado objetivamente bem: vigor físico, lar, família, trabalho.


Tenho andado subjetivamente controversa.

obs: O quadro é de Tarsila do Amaral -> "Os Operários" - 1933

domingo, 29 de agosto de 2010

FAMÍLIA, UM PROJETO DE DEUS


O núcleo da sociedade, de onde surgimos e criamos nossa primeira identificação de humanidade é a família. A mãe, o pai, a tia, a avó, o irmão, enfim, este é o primeiro meio social a ser experimentado pela pessoa ao nascer. Daí vão surgindo as primeiras referências para tudo, primeiro para as necessidades básicas como alimentação, higiene, vestuário e logo a influência dos hábitos dos membros da família começam a influenciar o comportamento do novo ser.


É por isso que uma família agitada tende a propiciar ambiente favorável para que os novos componentes também assim sejam. Trata-se tão somente de uma tendência, que pode vir a gerar o resultado citado ou não. Pois, o espírito ao reencarnar já trás consigo sua personalidade pronta com suas vivências passadas que aos poucos despontam conforme o desenvolver físico e emocional da pessoa.


Prelecionam os espíritos ao responderem a pergunta de Allan Kardec 132 em “O livro dos espíritos” que Deus impõe a reencarnação a todos com o objetivo maior de atingirmos a perfeição seja através das provas e/ou expiações a que estamos sujeitos, que nos testam as virtudes fazendo-nos exercitá-las, seja por meio de uma missão, reservada aos espíritos em condição mais elevada que a maioria de nós. Ademais, ressaltam outro intento da reencarnação, qual seja, a de contribuir com seu quinhão para a obra da criação. Sendo a evolução o fim da reencarnação, a participação de cada um para o aperfeiçoamento do globo consiste num mister designado por Deus, para facilitar nossa depuração.


O espírito, após período de esclarecimento e aprendizado no plano espiritual, reencarna não raras vezes no seio familiar daqueles a quem outrora odiou, pois o intuito de Deus é promover a reconciliação entre os seus, e escolheu o núcleo familiar como o espaço ideal para iniciar a implementação de relações sociais mais amorosas.


A doutrina espírita cuida de esclarecer-nos que o espírito que reencarna vem para o plano terrestre com o objetivo de progredir, e a missão dos pais com os filhos é a de conduzir seus filhos a Deus, isto é, auxiliar o processo evolutivo deles empreendendo todos os esforços possíveis para tanto. Pois, relembra Santo Agostinho, em sua comunicação em Paris, 1862: “Lembrai-vos de que, a cada pai e a cada mãe, Deus perguntará: ‘Que fizeste do filho confiado à vossa guarda?’ Se permaneceu atrasado por vossa culpa, vosso castigo será vê-lo entre os espíritos sofredores, quando dependia de vós a sua felicidade. Então, vós mesmos, atormentados pelo remorso, pedireis para reparar essa falta; solicitareis uma nova encarnação par a vós e para ele na qual o rodeareis de melhores cuidados, e ele, cheio de reconhecimento, vos retribuirá com seu amor.”[1]


Deus sabe da capacidade e das condições psico-emocionais de cada um e não entrega fardo que não seja compatível ao que se pode suportar. Elabora, portanto, um plano perfeito para cada um de nós, um projeto de família com pessoas em condições de depuramento coletivo, a ser desenvolvido a partir da escolha individual em dar cabo ao empreendimento divino ou não. A esse respeito, relata a bíblia sagrada em 1 Crônicas, 10: “Olha, pois, agora, porque o Senhor te escolheu para edificares uma casa para o santuário; esforça-te e faze a obra”. Por fim, o Salmo 103-17 relata a seguinte promessa de Deus: “Mas a misericórdia do Senhor é de eternidade sobre aqueles que o temem, e a sua justiça sobre os filhos dos filhos;”, porque a misericórdia de Deus está nos céus, e a sua fidelidade chega até às mais excelsas nuvens (Salmo 36-5).




[1] Vide o Evangelho segundo o espiritismo, capítulo 14, item 9: A ingratidão dos filhos e os laços de família por Santo Agostinho.

terça-feira, 23 de março de 2010

Ditadura?





Nenhuma ditadura sobreviveu. Nenhuma ditadura sobreviverá. O desejo humano pela liberdade sempre se sobreporá à pequenez dos falsos líderes, daqueles que acreditam que a melhor forma de gerenciar é impondo ideias, tolhendo a capacidade inata de cada um de elaborar percepções.

Mas, sim, algumas ditaduras ainda vigoram, a do consumismo desmedido, a do corpo desenhado, a supervalorização da juventude, ou melhor, da depreciação da velhice. A ditadura da corrupção e da imoralidade, que se reflete na represália covarde daqueles que defendem os princípios constitucionais e o ordenamento jurídico. A ditadura do silêncio, que cerceia tacitamente a falar sobre o que ninguém quer falar por medo, medo e vergonha de si mesmo.

A ditadura militar não é mais do nosso tempo. Já era. Pertence a uma outra época. Passou. Ela foi a grande responsável pelo esforço coletivo em concretizar o direito de contradizer, de argumentar, de participar, de reunir, de expressar, de escrever, de cantar, de dizer, de votar. Uma vez conquistados tais direitos, o processo histórico volta-se para a conquista de outros que venham a complementar o exercício da dignidade humana.


Há sim, certo saudosismo presente na fala e na postura daqueles que não sabem falar de democracia e direitos humanos sem olvidar daquele governo ditador. Há sim extemporaneidade no discurso pretérito sobre épocas que, como já disse, não sobreviveram, nem nunca sobreviverão. Pois, há muito o que se falar do tempo em que estamos. Todavia, deixa-se de costurar os novos caminhos da história, com novos debates, novas divergências, novas argumentações, para paralisar noutra era, para se alimentar de um ponto de partida ultrapassado.

Enquanto isso, a modernidade medieval dos direitos sociais, culturais e econômicos desbotam cada vez mais nos semblantes preocupados com o porvir de um tempo que já foi. Não que não seja importante rediscutir a história, mas é que a ditadura militar dificilmente sai da pauta da discussão dos direitos humanos para dar espaço para temáticas futuristas. É, porque tá tão difícil falar sobre educação, saúde, direitos trabalhistas, moradia, proteção à maternidade e à infância, que estes já viraram temas pertencentes às sociedades de outros planetas.

domingo, 21 de março de 2010

Lealdade


Ser leal é ser sincero, dedicado, fiel, é assumir o compromisso de respeitar o outro. É não querer ver a pessoa objeto de nossa proteção ser alvo das línguas malsãs, tampouco seremos nós mesmos proprietários destas.

Ser leal é falar a verdade com amor, com o desejo sincero de ver uma perspectiva melhor para aquele que a ouve, é também deixar de falar a verdade, na medida correta, não é mentir, é salvaguardar.

A lealdade é gênero, a fidelidade espécie. A lealdade é ampla, abstrata, complexa, a fidelidade é exata, moldada, quase imposta. A lealdade é automática, advém naturalmente da sublimidade dos nobres sentimentos, a fidelidade é pactual, raciocinada, engessada.

Na guerra das virtudes para eleição de qual delas é a suprema, a lealdade atinge patamar específico, inabalável. É o sentimento que sustenta todos os outros, que freia, que incentiva, e conduz ciclicamente ao amor ou a própria manifestação deste.

E por aí vamos, nos julgando humanos, espertos, inteligentes, astutos, viris, verdadeiros símbolos da evolução, quando na verdade conhecemos como ícone da lealdade o cão, através de diversas histórias de devoção e compromisso. “O cão é o melhor amigo do homem”, dizem uns, “lealdade é qualidade de cachorro que nem todas as pessoas têm”, dizem outros. O que não nos reduz a uma condição inferior, e sim faz confirmar que ainda estamos aprendendo a nos tornar seres humanos.

Todos queremos ser objeto da lealdade de alguém, mas quantas e quantas vezes exigimos uma incodicionalidade de amor que desconhecemos sentir...mas sempre estamos lá com requerimentos irrestritos, como déspotas.

“Serei, serei leal contigo...”, é a promessa cantada por Caetano. Seja real.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Todo carnaval tem seu fim


Completei um quarto de século nessa existência, nas vésperas do carnaval, ou para quem se antecipa nas comemorações, na quinta feira de carnaval.


Foi um aniversário diferente, o primeiro comemorado a caráter: fantasia, confetes, serpentinas, marchinha de carnaval, máscaras, etc.


Todos os anos, desde de criança, sentia um certo vazio no dia do aniversário, porque nunca caía numa data que eu estivesse na escola, ou era férias, ou não era dia da semana. Mas esse ano foi diferente, a comemoração tinha que ser triunfal, e foi. E o vazio foi todo preenchido com a minha alegria em estar viva, conforme a vontade D'ele.


Nem mesmo a limitação do meu pé direito, em recuperação, me impediu de caminhar, cozinhar e até dançar eu dancei...!


Ao contrário do que disse Marcelo Camelo, digo que nesse ano o carnaval não terá fim, pelo menos pra mim!!! "Olha a cabeleira do Zezé, será que que ele é? será que ele é, laiá laiá laiá..."