
Belas palavras as tuas. Teu conceito é de pura palavra, és a própria metalinguagem na sua feição mais metafísica. Ora, o que são esses vocábulos que insistem em ecoar num sopro disforme, descontínuo, desorientado e inerte?
Sempre falas do ódio que julgas outros sentirem, e, ao mesmo tempo, do amor que dizes sentir. Porque só dizes, porque és a personificação de um elóquio. Ossos do ofício?
Por que pensas tanto em ódio e amor ao mesmo tempo? O que te faz pensar que esses aparentes opostos têm faces tão diferentes? Por que não te fazes um ser existente? A responsabilidade é uma premissa existencial, e somente os que sentem a paixão é que sabem sentir e se expressar, não mais o amor tem tanta relevância. Viver nossa condição humana é viver a paixão. É saber que o todo só adquire significado se vivido em partes. Nossas partes que simplesmente são. Eu odeio. Eu amo. Eu vivo. Eu existo. Porque sou. E a vida é.
Minha busca é pela verdade, mas receio que ela não exista, ou não seja alcançável. Ou talvez nem seja a própria verdade, talvez só exista mentira, talvez nada exista. O nada.
O nada.
Se perguntassem hoje a mim quem és diria: um dicionário, um compêndio de letras ininteligíveis, um constructo de fonemas aberrantes, é a evasão do buraco negro.
Não amas. Quem ama vive.