quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Virtude do futuro






Recentemente, fui questionada sobre qual virtude eu espero que se desenvolva na escola. E então fiquei em estado de imersão interior buscando encontrar o que de fato espero. Assim, entrelaçada nas minhas teias de pensamento, surgiu aquela que considero a virtude do futuro: empatia.

  Tem-se a empatia como a virtude que se expressa através de uma fusão  emocional que proporciona que o indivíduo se acomode na situação do outro, experimentando os seus sentimentos e as suas emoções. Ser empático é, portanto, ter a aptidão de vivenciar objetivamente e racionalmente os sentimentos do outro. Para obter-se tal intento, é  necessário  haver mínima  comunicação afetiva entre os sujeitos, envolvimento intersubjetivo, de modo que essa conexão enseje a compreensão do ser e estar do outro, acarretando na prática de atitudes solidárias.

A capacidade de abstração que a empatia sugere, de imaginar-se efetivamente como se sente outra pessoa em determinada situação, consiste na qualidade moral do futuro, no ideal de civilização que sonhamos, de respeito aos direitos fundamentais de cada um, respeito ao tempo de desenvolvimento, respeito perante as múltiplas inteligências, e tantos outros aspectos da complexidade que significa ser e existir como pessoa.
 
O exercício da empatia  é a proposta basilar do cristianismo, expressa na máxima de amar ao próximo como a si mesmo, pois no momento em que me coloco no lugar do outro, consigo salvaguardar minha subjetividade de possíveis más escolhas em julgar as atitudes e os comportamentos alheios, e fixar-me na cooperação que posso praticar diante de alguma situação, contribuindo para o advento do bem. Porém,  a ideia de exercício  dessa virtude não  carece de religiosismos para ter ampla aceitação, uma vez que próprio exercício do ato de pensar (e ler), leva a considerá-la como fundamental para a manutenção de um Estado de Direito, isto  é,  um Estado pautado no império das leis e da efetividade dos diretos fundamentais. Como então primar por tais postulados sem o exercício da empatia?

O grande desafio é  sair do casulo do egocentrismo pessoal e grupal, despojar-se da ideia do eu supremo e do “nós”  limitado, para abranger a maior soma de indivíduos possível,  ou melhor, a todos. A empatia é  o oposto do estado de alma que se concentra em si mesmo, da exaltação exagerada do próprio “eu”, sendo o “eu”, o universo. Ao mesmo tempo, há aqueles comportamentos voltados para os interesses de um grupo, uma casta, uma categoria, excluindo-se os demais, há  indiferença aos problemas dos outros e super atenção as demandas somente daquele grupo. É o que ocorre nas oligarquias, ainda existentes em pleno contexto histórico de desespero pela efetividade dos ideais de igualdade,  solidariedade e fraternidade. Muitos de nós  se mostram exaustos do sistema, das improbidades, dos excessos ou falta de punição, mas poucos,  muitos poucos saem do discurso acadêmico burguês para atingir o plano real do cotidiano.

A empatia é,  com efeito, a base dessa nova concepção de sociedade, que freiará atitudes inóspitas  e desprezíveis de alguns que revelam sentimentos ilusórios  de superioridade, dando lugar para uma disposição de praticar o bem como algo espontâneo e necessário para a coexistência pacífica e uma existência feliz, no seio de uma sociedade onde a hipocrisia será definitivamente uma coisa do passado.