
O núcleo da sociedade, de onde surgimos e criamos nossa primeira identificação de humanidade é a família. A mãe, o pai, a tia, a avó, o irmão, enfim, este é o primeiro meio social a ser experimentado pela pessoa ao nascer. Daí vão surgindo as primeiras referências para tudo, primeiro para as necessidades básicas como alimentação, higiene, vestuário e logo a influência dos hábitos dos membros da família começam a influenciar o comportamento do novo ser.
É por isso que uma família agitada tende a propiciar ambiente favorável para que os novos componentes também assim sejam. Trata-se tão somente de uma tendência, que pode vir a gerar o resultado citado ou não. Pois, o espírito ao reencarnar já trás consigo sua personalidade pronta com suas vivências passadas que aos poucos despontam conforme o desenvolver físico e emocional da pessoa.
Prelecionam os espíritos ao responderem a pergunta de Allan Kardec 132 em “O livro dos espíritos” que Deus impõe a reencarnação a todos com o objetivo maior de atingirmos a perfeição seja através das provas e/ou expiações a que estamos sujeitos, que nos testam as virtudes fazendo-nos exercitá-las, seja por meio de uma missão, reservada aos espíritos em condição mais elevada que a maioria de nós. Ademais, ressaltam outro intento da reencarnação, qual seja, a de contribuir com seu quinhão para a obra da criação. Sendo a evolução o fim da reencarnação, a participação de cada um para o aperfeiçoamento do globo consiste num mister designado por Deus, para facilitar nossa depuração.
O espírito, após período de esclarecimento e aprendizado no plano espiritual, reencarna não raras vezes no seio familiar daqueles a quem outrora odiou, pois o intuito de Deus é promover a reconciliação entre os seus, e escolheu o núcleo familiar como o espaço ideal para iniciar a implementação de relações sociais mais amorosas.
A doutrina espírita cuida de esclarecer-nos que o espírito que reencarna vem para o plano terrestre com o objetivo de progredir, e a missão dos pais com os filhos é a de conduzir seus filhos a Deus, isto é, auxiliar o processo evolutivo deles empreendendo todos os esforços possíveis para tanto. Pois, relembra Santo Agostinho, em sua comunicação em Paris, 1862: “Lembrai-vos de que, a cada pai e a cada mãe, Deus perguntará: ‘Que fizeste do filho confiado à vossa guarda?’ Se permaneceu atrasado por vossa culpa, vosso castigo será vê-lo entre os espíritos sofredores, quando dependia de vós a sua felicidade. Então, vós mesmos, atormentados pelo remorso, pedireis para reparar essa falta; solicitareis uma nova encarnação par a vós e para ele na qual o rodeareis de melhores cuidados, e ele, cheio de reconhecimento, vos retribuirá com seu amor.”[1]
Deus sabe da capacidade e das condições psico-emocionais de cada um e não entrega fardo que não seja compatível ao que se pode suportar. Elabora, portanto, um plano perfeito para cada um de nós, um projeto de família com pessoas em condições de depuramento coletivo, a ser desenvolvido a partir da escolha individual em dar cabo ao empreendimento divino ou não. A esse respeito, relata a bíblia sagrada em 1 Crônicas, 10: “Olha, pois, agora, porque o Senhor te escolheu para edificares uma casa para o santuário; esforça-te e faze a obra”. Por fim, o Salmo 103-17 relata a seguinte promessa de Deus: “Mas a misericórdia do Senhor é de eternidade sobre aqueles que o temem, e a sua justiça sobre os filhos dos filhos;”, porque a misericórdia de Deus está nos céus, e a sua fidelidade chega até às mais excelsas nuvens (Salmo 36-5).
[1] Vide o Evangelho segundo o espiritismo, capítulo 14, item 9: A ingratidão dos filhos e os laços de família por Santo Agostinho.